“A companhia está bem representada no Brasil em todos os negócios”, diz CEO da CMPC
Para Francisco Ruiz-Tagle, após as recentes aquisições e investimentos no mercado nacional, a companhia já se sente “muito brasileira”
O grupo chileno CMPC, um dos maiores produtores mundiais de celulose, papel tissue e embalagens, já se considera também brasileiro após ter realizado grandes investimentos no mercado nacional. Desde 2009, o grupo investiu mais de R$ 19 bilhões em aquisições e em expansão de capacidade no país.
“A CMPC se sente muito brasileira. A companhia está bem representada no país em todos os negócios”, afirmou Francisco Ruiz-Tagle, CEO da CMPC, em entrevista recente ao Valor Econômico. Na oportunidade, o executivo também afirmou que o foco atual da empresa no Brasil está em consolidar os ativos recentemente adquiridos, mas não descartou a possibilidade de considerar eventuais novas oportunidades de compra.
Recentemente, no terceiro trimestre do ano, a CMPC comemorou recordes de produção, ultrapassando, pela terceira vez consecutiva, 1 milhão de toneladas produzidas. Também em 2022, estreou no mercado brasileiro de embalagens ao assumir fábricas da Iguaçu Celulose e deu início às operações da Carta Fabril, fabricante fluminense de tissue e produtos de higiene pessoal, incorporada à Softys, que hoje é o maior braço da CMPC no segmento a nível local.
Desde 2009, com a compra da antiga Fibria, a empresa produz celulose de eucalipto. Agora, está investindo cerca R$ 2,75 bilhões na modernização da unidade de Guaíba, no Rio Grande do Sul, para adequá-la aos padrões de sustentabilidade mais modernos disponíveis para o setor.
RESULTADOS POSITIVOS
As receitas do grupo registraram uma alta de 25% na comparação anual, para US$ 5,8 bilhões até setembro. No terceiro trimestre, a CMPC teve receitas consolidadas de US$ 2,1 bilhões, crescimento de 28% em relação ao mesmo período do ano passado. O resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) somou US$ 602 milhões, uma alta de 27%.
“O terceiro trimestre foi de momento positivo para o setor em geral, com celulose e papel com preços historicamente altos e por mais tempo do que o normal. Mas também nos beneficiamos do bom desempenho operacional da CMPC, em todos os segmentos”, afirmou Ruiz-Tagle.
Para 2022, o consenso da Bloomberg projeta vendas consolidadas de US$ 7,65 bilhões para o grupo – um crescimento importante frente aos US$ 6,32 bilhões vistos no ano anterior, sobretudo devido aos preços internacionais mais elevados da celulose. Já para 2023, a expectativa do mercado é de receitas de US$ 7,46 bilhões, com algum recuo frente às vendas esperadas para este ano.
OLHANDO PARA O FUTURO: PRINCIPAIS DESAFIOS
No curto prazo, os olhares da companhia para o futuro estão atentos às incertezas econômicas de 2023, não apenas no Brasil, mas também no Chile, país onde está localizada sua sede, que parece caminhar para uma recessão econômica e também vive um momento político complicado. No mundo, as atenções se voltam à guerra entre Rússia e Ucrânia, o avanço da inflação e à crise energética que atinge a Europa.
“Olhando para 2023, ainda há muita incerteza. O ano será afetado pela crise econômica em todos os lados do mundo”, disse Ruiz Tagle. “A CMPC é antiga, então já viveu muitas crises e mudanças de governo. A companhia mira no longo prazo e não toma decisões fundamentadas por causa do governo do momento”, declarou o executivo.
Além disso, ele acredita que, em 2023, a demanda pelos principais produtos do grupo tende a ser negativamente afetada nos diferentes mercados. Ainda assim, a CMPC afirma estar preparada para enfrentar os desafios. “Apesar das dificuldades logísticas, a companhia pode superar, conseguiu lidar com essa situação e atender a nossos clientes no terceiro trimestre”, afirmou o CEO.
A principal dificuldade em relação à logística está na disponibilidade de contêineres. Mas como a CMPC já era robusta também em contratos de navios de carga solta “break bulk”, conseguiu remanejar volumes, em acordo com os armadores envolvendo cargas de madeira e papéis de embalagem. Para o executivo, essas questões tendem a se normalizar nos próximos trimestres e, neste momento, não há mais a mesma restrição. “Estamos em situação menos apertada que há alguns meses. Ainda há algum desequilíbrio, mas os preços baixaram”, disse.
OFERTA x DEMANDA
Analisando o mercado global de celulose, o executivo acredita que o desafio para 2023 está mais direcionado à oferta do que à demanda. “Houve greves importantes, houve atrasos em projetos em 2022, mas isso vai começar a se solucionar. Portanto, 2023 vai ser mais marcado pelo que ocorre do lado da demanda e economia global do que pela oferta”, refletiu o executivo.
Para Ruiz-Tagle, a relação entre oferta e demanda vai depender da China, maior consumidora global da fibra. “Mais do que custos, é a desvalorização cambial que torna a celulose mais competitiva. A inflação afeta muito, mas não estou seguro de que a celulose será mais competitiva para os produtores locais [devido ao custo mais baixo]”, avaliou.
Nesse sentido, do lado da demanda no longo prazo, a expectativa não deve ser desafiadora no geral. As embalagens tiveram uma demanda estável e substituição do plástico está acontecendo de forma gradual – o que traz boas oportunidades, concluiu Ruiz-Tagle.