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A evolução do setor brasileiro de papel e celulose

Por Celso Tacla, presidente da Valmet South America e membro do comitê executivo global da Valmet

Nesta minha primeira coluna no Portal Celulose gostaria de compartilhar um pouco da minha trajetória, que corre paralela ao crescimento do setor de celulose no Brasil, e discutir o que podemos esperar para o futuro. 

Comecei a trabalhar no setor há muitos anos. Desde cedo me interessei pela celulose, o que me levou a escolher a Klabin, em Telêmaco Borba, para realizar meu estágio obrigatório quando cursava Engenharia Química na UFPR. Tive a oportunidade de passar por todos os setores da fábrica, desde a chegada da madeira até a produção de papel. A fábrica era uma verdadeira enciclopédia – já que não existiam plataformas digitais – de tecnologias para a produção de celulose e papel, com digestores batch e contínuo, um dos poucos digestores ESCO instalados no país, além de produzir celulose semi-química em digestores esféricos e pasta mecânica. Fabricava também polpa moldada e papéis dos mais variados tipos, desde papel imprensa até cartões. Conheci ali diversas pessoas que admirei desde aquela época e que se tornaram meus mentores e amigos. 

Naquela época, o odor de uma fábrica de celulose era conhecido como “cheiro do dinheiro”. Muitas coisas mudaram desde então e hoje isso é algo inaceitável, quase surreal. As fábricas cresceram muito e com o aumento de escala também evoluíram a tecnologia, os cuidados com o meio ambiente, com as pessoas e com a comunidade. 

Em paralelo a esse crescimento, avancei em minha carreira. Passei por empresas como Götaverken, Kvaerner, Metso e, posteriormente, Valmet. Todas elas com raízes nórdicas. Nestes anos visitei muitas fábricas no exterior, mas ainda me lembro muito bem da minha primeira viagem à Finlândia, quando estive com Floreal Puig e Volnei Hilbert, que trabalhavam na Aracruz Celulose (hoje Suzano Aracruz) para conhecer sistemas de abatimento de odor através da coleta e queima de gases na caldeira de recuperação. Visitamos fábricas pioneiras no uso dessa tecnologia. Mais tarde, um sistema para esta finalidade foi instalado naquela fábrica. Este mesmo tipo de interação ocorreu em outras oportunidades para muitas outras tecnologias. 

Muitos anos depois, recebi do Presidente da Finlândia a comenda de Cavaleiro da Ordem da Rosa Branca pelos serviços prestados em prol da cooperação comercial entre o Brasil e a Finlândia, que me foi entregue pelas mãos de Joukko Leinonen, embaixador da Finlândia no Brasil na época. Durante a cerimônia, me dei conta que desde aquela primeira viagem devia ter visitado o país mais de 100 vezes, calculando uma média de quatro viagens por ano durante 25 anos. 

Minha trajetória seguiu paralela ao crescimento do setor no Brasil. Esse tempo foi suficiente para ver o país alcançar a liderança na produção mundial de celulose de mercado. As fábricas cresceram, tudo o que antes parecia grande ficou pequeno, muitas barreiras tecnológicas foram ultrapassadas. A integração das tecnologias de produção com automação de processos e controles inteligentes levou o setor a níveis de eficiência e produtividade inimagináveis e o Brasil alcançou protagonismo na produção de celulose em todo o mundo. Saindo um pouco das fronteiras das fábricas, basta olhar para o entorno delas para testemunhar o progresso e o poder de transformação social e econômica que o setor tem.  

Com essa reflexão sobre o passado e com o olhar voltado ao futuro, vejo com muito otimismo as possibilidades e oportunidades para o crescimento da indústria de celulose em conjunto com o desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de biomateriais, embalagens, biocombustíveis, energia, têxteis e assim por diante. Essas oportunidades e todos os impactos positivos mostram como o setor no Brasil está bem posicionado para seguir crescendo de forma sustentável e inovadora, por muitos e muitos anos. 

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Celso Tacla

Celso Tacla é presidente da Valmet South America e membro do comitê executivo global da Valmet. Sua carreira profissional, iniciada em fábricas de celulose e papel, seguiu em diversas empresas de bens de capital voltadas ao setor de celulose, papel e energia, como a sueca Götaverken Energy, a norueguesa Kvaerner Pulping e as finlandesas Metso e Valmet. Em sua trajetória, atuou na liderança de processos para implementação de grandes projetos de produção de celulose, papel e energia para clientes no Brasil e em vários outros países da América do Sul.
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