Brasil avança no mercado global de celulose e projeta maior peso nas exportações aos EUA
Com novas fábricas e custo competitivo, país deve elevar sua fatia no mercado mundial para 34% e ganhar espaço diante da mudança no consumo chinês
A participação do Brasil no mercado global de celulose deve aumentar para 34% até 2030, um crescimento de 6 pontos percentuais em relação aos níveis atuais, impulsionada pela entrada de novas fábricas e pela maior competitividade da fibra curta brasileira, segundo o Rabobank.
A China segue como principal destino da celulose nacional, mas a expansão de sua produção integrada tende a reduzir as importações nos próximos anos, abrindo espaço para o fortalecimento das exportações brasileiras aos Estados Unidos, hoje o segundo maior comprador.
Tradicionalmente, os produtores chineses operavam com custos elevados e pouca disponibilidade de madeira, o que os levava a adquirir grandes volumes de celulose de mercado. A virada ocorreu com a crise imobiliária de 2021, quando a madeira antes destinada à construção passou a sobrar, estimulando novos projetos integrados de celulose.
Dados do Rabobank mostram que a produção integrada de celulose de fibra curta na China saltou de 5 mil toneladas em 2016 para 9,5 mil toneladas em 2024. A projeção indica que esse número deve atingir 14,5 mil toneladas em 2027, um avanço de quase 53%.
“Das fábricas planejadas nos últimos três anos, ninguém estava mapeando isso”, diz Andres Padilla, analista do Rabobank. Ele afirma que o mercado tende a se ajustar, com unidades mais eficientes substituindo as menos competitivas. Ainda assim, parte da demanda precisará ser redirecionada, e os EUA surgem como destino estratégico para o Brasil.
Em 2024, o país respondeu por 82% das importações americanas de celulose de fibra curta, cerca de 2 milhões de toneladas, uma alta de 74% em relação a 2014, com taxa média de crescimento anual de 4,7%. O material é usado principalmente em papéis tissue, como papel higiênico e lenços.
No mercado de fibra longa, dominado historicamente pelo Canadá no fornecimento aos EUA, o cenário mudou após a pandemia. A participação brasileira chegou a 10% em 2024, cerca de 300 mil toneladas, enquanto o Canadá recuou para 75%.
“O Brasil está bem posicionado. Além de navegar melhor na volatilidade cambial, tem um custo de produção baixo e é competitivo em logística”, afirma Padilla. Entre os diferenciais, destacam-se o curto ciclo do eucalipto, avanços genéticos que ampliam a produtividade e grandes investimentos em fábricas integradas.
Além do Projeto Cerrado, da Suzano, novos empreendimentos de Arauco, CMPC e Bracell estão em expansão no país, somados à possível segunda linha da Eldorado, em Três Lagoas (MS). Com isso, o Rabobank estima que as exportações brasileiras devem subir das atuais 20 milhões para 25 milhões de toneladas até 2030.
Outro fator favorável ao Brasil é o spread entre fibras: hoje, a celulose de fibra curta custa de US$ 250 a US$ 300 a menos por tonelada na Costa Leste dos EUA.
“Há um incentivo econômico para a fibra curta ganhar ‘share’ no mercado americano, porque o ‘gap’ está maior agora e as dinâmicas de oferta e demanda sinalizam que é difícil fechar essa diferença no curto/médio prazo”, diz Padilla.
Além do preço, conta a relação de longo prazo entre produtores brasileiros e compradores americanos, marcada por qualidade e atendimento eficiente. Nesse contexto, a decisão da Casa Branca de impor tarifa de 10% à celulose brasileira mostrou-se um “tiro no pé”, afirma o analista — motivo pelo qual o governo dos EUA recuou e zerou a taxação.











