Brasil: Florestas e fibras como ativos estratégicos e vantagens competitivas no mercado de carbono
By Rafael Barisauskas, Senior Economist, Latin America Pulp, Paper & Packaging Analytics
O Brasil está prestes a transformar um de seus maiores ativos naturais em uma vantagem econômica estratégica. Com a regulamentação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), o país abre caminho para que setores produtivos com forte base florestal, como o de papel e celulose, assumam protagonismo na nova economia de baixo carbono.
Com cerca de 9 milhões de hectares de florestas plantadas e responsáveis por mais de 90% da madeira industrial produzida no país, cerca de 2,8 milhões de hectares estão sob posse direta de empresas do setor de papel e celulose. E, essas áreas, sobretudo compostas por eucalipto e pinus, são manejadas com alto grau de eficiência e, em muitos casos, já contam com certificações ambientais que garantem rastreabilidade e boas práticas de manejo. Esses ativos não apenas abastecem cadeias produtivas de papel, celulose e biomassa, mas também funcionam como sumidouros de carbono altamente eficientes. Segundo o Developing Forest Based Industries, o setor já é responsável por uma absorção líquida estimada de 1,8 bilhão de toneladas de CO2 — um volume que o coloca como protagonista natural no novo mercado regulado de carbono.
Esse patrimônio verde não apenas abastece a cadeia produtiva de papel e celulose, mas também representa uma reserva estratégica de carbono. Considerando que um hectare de floresta plantada pode gerar entre 2 e 4 toneladas de CO₂ equivalente em créditos por ano, o setor teria potencial para emitir entre 5,6 e 11,2 milhões de toneladas de créditos anualmente. A preços médios de mercado entre US$ 15 e US$ 50 por tonelada, isso poderia representar uma receita adicional de até US$ 560 milhões por ano — apenas com a comercialização de créditos de carbono de alta integridade.
Mais do que uma oportunidade financeira, essa dinâmica reforça o papel do setor como vetor de soluções climáticas. A indústria brasileira de papel e celulose já opera com uma das menores pegadas de carbono do mundo, graças ao uso de biomassa renovável, eficiência energética e logística integrada. Agora, com o avanço do SBCE e a crescente demanda global por ativos verdes, o setor pode ampliar sua relevância como fornecedor de produtos sustentáveis e créditos ambientais.
Além disso, a pressão regulatória internacional — como o Regulamento Europeu de Produtos Livres de Desmatamento (EUDR) — tende a favorecer empresas com cadeias produtivas rastreáveis e baseadas em florestas plantadas. Isso cria uma vantagem competitiva adicional para o Brasil, que já lidera globalmente em certificações florestais e produtividade por hectare.
O desafio está em transformar esse potencial em realidade. Será necessário investir em sistemas de mensuração e verificação robustos, integrar plataformas de registro nacionais com mercados internacionais e garantir governança transparente. Mas os fundamentos de mercado estão aí: ativos florestais em sua maioria certificados, capacidade técnica instalada e um novo marco regulatório em vigor.
Em um mundo que busca soluções climáticas escaláveis, o setor de papel e celulose brasileiro tem a chance de mostrar que florestas bem manejadas não são apenas matéria-prima — são também ativos financeiros, ambientais e reputacionais. E, nesse novo mercado, quem planta com responsabilidade pode colher muito mais do que madeira.





