Destaques da London Pulp Week
Por Gabriel Fernandez, analista independente do mercado de celulose e papel
A London Pulp Week (Semana da Celulose de Londres, em inglês) de 2024 ocorreu de 10 a 14 de novembro, reunindo os principais players da indústria de celulose e papel. Como é comum nessas semanas, a natureza das discussões evoluiu à medida que as reuniões se desenrolavam entre fornecedores, traders e compradores.
Na quinta-feira, dia 14, quando os participantes se preparavam para retornar para casa após as conferências oficiais, as visões e expectativas do mercado eram diferentes das discutidas no domingo, dia 10, quando todos chegavam a Londres. O clima e os principais tópicos de debate mudaram ao longo da semana. Os temas centrais foram os mercados das principais fibras – curta e longa – e como ambos estão apresentando comportamentos distintos, algo incomum na indústria. Em Londres, como todos os anos, também se deu início às negociações dos contratos para 2025, e ficou claro que as necessidades e expectativas de ambos os lados da mesa de negociação são diferentes.
O mercado de fibra curta termina o ano com excesso de oferta, apesar dos recentes cortes na produção observados e relatados na América Latina. Como exemplo, a Suzano anunciou recentemente uma redução de 4% na sua produção, mas, ao mesmo tempo, iniciou a produção na nova fábrica de Ribas do Rio Pardo (Projeto Cerrado), que trará ao mercado cerca de 900 mil toneladas no segundo semestre de 2024. As exportações recorde de celulose de eucalipto (BEK) da América do Sul – Brasil, Uruguai e Chile – em outubro contribuíram ainda mais para esse excedente. Embora a demanda da China tenha mostrado melhora, não será suficiente, e espera-se que os estoques nos portos aumentem até o final do ano. Não são previstas mudanças significativas no mercado de fibra curta até após o Ano Novo Chinês, no início de fevereiro do próximo ano.
Em contraste, o mercado de fibra longa (celulose de pinus) está apertado. A diferença dos preços entre a China e os outros grandes mercados, como Europa e América do Norte, estão influenciando as negociações de final de ano. Os compradores, principalmente na Europa, esperam reduções adicionais de preços antes do final do ano, cientes dos preços mais baixos observados na China, enquanto os fabricantes buscam, pelo menos, manter os preços estáveis, considerando a limitada disponibilidade de celulose.
Vale destacar que as dinâmicas dos mercados de fibra curta e longa estão começando a se desvincular. Os fundamentos de oferta e demanda de cada mercado estão divergindo. Prevê-se que a capacidade de produção de fibra curta, especialmente de eucalipto, se expandirá nos próximos anos, enquanto a de fibra longa continuará se contraindo, com mais fechamentos permanentes de fábricas esperados para 2025. A International Paper anunciou recentemente o fechamento definitivo de sua fábrica em Georgetown a partir de janeiro do próximo ano e, embora a produção principal dessa unidade seja celulose fluff, isso exercerá maior pressão sobre a oferta de celulose de fibra longa.
Como em anos anteriores, as negociações para os contratos de 2025 começaram em Londres e devem ser concluídas antes do final do ano. Os compradores buscam descontos superiores à média histórica de 2%, enquanto os fornecedores preferem adotar uma estratégia cautelosa de “ouvir e esperar”, monitorando os desenvolvimentos do mercado antes de apresentar contrapropostas.
Os fabricantes de fibra curta, cientes do aumento na oferta devido às novas capacidades iniciadas em 2023 e 2024, precisam assegurar volumes para o próximo ano. Já os produtores de fibra longa devem priorizar a rentabilidade em um contexto de oferta limitada, risco contínuo de mais fechamentos de fábricas e pressão nos resultados financeiros devido aos preços do segundo semestre. Os preços de lista podem sofrer mudanças significativas durante o primeiro trimestre de 2025, dependendo do desfecho das negociações.
Cada “Pulp Week” traz notícias importantes para a indústria, e este ano não foi diferente. A Chenming Pulp & Paper, um importante produtor integrado de papel na China (com capacidade de produção de quase 7 milhões de toneladas de papel), anunciou uma mudança surpreendente na liderança e, em seguida, confirmou rumores sobre graves problemas financeiros. Acredita-se que a empresa tenha interrompido pelo menos 70% de sua capacidade de produção de papel (em grande parte integrada), e não se descarta que, nas próximas semanas, seja forçada a parar completamente a produção, tanto de celulose quanto de papel. O excesso de oferta de papel na China pode estar cobrando sua primeira vítima.
As dinâmicas em mudança nos mercados de celulose de fibra curta e longa, juntamente com a evolução dos fundamentos de oferta e demanda, sinalizam um período de transformação para a indústria. Será essencial monitorar de perto os desenvolvimentos do mercado no final do ano e estar preparado para uma possível volatilidade no início de 2025.