Executivos da PE são indiciados por espionagem à J&F
Segundo inquérito da Polícia Civil, hackers foram contratados para invadir os computadores da J&F e monitorar e-mails em tempo real
A disputa bilionária entre a Paper Excellence (PE) e a J&F Investimentos pelo controle da Eldorado Brasil já dura quatro anos. O imbróglio, esta semana, também passou a contar com uma investigação a respeito de uma denúncia de espionagem.
Nessa quarta-feira, 28, a Polícia Civil de São Paulo indiciou dois executivos da PE sob acusação de terem contratado hackers para invadir computadores da J&F para monitoramento de e-mails em tempo real.
Segundo o delegado Nelson Caneloi Junior, do 1º Distrito Policial de Diadema, há provas materiais e depoimentos que comprovariam a contratação da empresa de tecnologia e programação Moema Ferrari Normanha por parte dos executivos Claudio Laerte Cotrim e Josmar Verillo, da Paper Excellence, para invadir e-mails e celulares de diretores da holding dos irmãos Batista, enquanto as duas empresas iniciavam uma disputa arbitral pelo controle da produtora de celulose.
De acordo com o delegado, foi comprovado “de forma nítida” que Moema teria sido contratada pelos executivos da PE, e que a empresa contou com os serviços de hackers de seu sócio Leonardo Lopes e do funcionário Danilo Vaz Bernardi para invadir os computadores e instalar um software de espionagem. O inquérito aponta ainda, dentre outras provas, transferências pelo pagamento dos serviços prestados por Danilo na época, além de um depoimento deste confessando ter sido contratado pela empresa de tecnologia.
Na última semana, os advogados da Moema entraram com um pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF), na tentativa de impedir que o depoimento de Danilo fosse incluído como prova na investigação de Diadema, mas a solicitação foi negada pelo ministro Alexandre de Moraes.
Os executivos da PE, Cotrim e Verillo, foram indiciados pelos crimes de invasão de dispositivo informático e associação criminosa, previstos no Código Penal. No entanto, o inquérito ainda não é conclusivo, já que para virar processo judicial é necessário que a denúncia seja acolhida pelo Ministério Público.
A investigação policial começou em 2019, quando a empresa que hospeda os servidores da JBS, que faz parte da holding dos Batista, fizeram um boletim de ocorrência após suspeita de invasão em computadores de outro cliente. Na época, a suspeita era de que ex-funcionários estariam invadindo os servidores de clientes para depois oferecer soluções. Apenas posteriormente o caso foi associado com o da J&F.
É esperado que, dependendo do encaminhamento do inquérito, a J&F utilize a invasão para tentar invalidar uma decisão da Câmara de Comércio Internacional (CCI) favorável à PE.
O caso também deve ser usado na disputa que acontece na Câmara de Arbitragem do Mercado (CAM), na B3. No início desta semana, os três árbitros que julgam o caso renunciaram, após denúncia de conflito de interesse, em razão do casamento da secretária da câmara com um advogado do escritório que representa sócia minoritária.
Em nota, a Paper Excellence afirmou que o inquérito é “inusitado” e sem “valor jurídico”.