Foco na liderança é a chave para reduzir o turnover
Por Isis Borge, Diretora Executiva na Talenses e Sócia do Talenses Group

O setor de papel e celulose segue bastante aquecido com uma disputa acirrada pelos profissionais mais talentosos. E o que tenho visto são pessoas trocando de empresas sem muito apego aos projetos nos quais estão inseridos. Muitos empregadores que oferecem pacotes atrativos de retenção têm ficado em desvantagem diante de contratantes que oferecem “luvas” para cobrir os pesados incentivos de longo prazo (LTIs). Também há quem esteja se movimentando por um incremento salarial pouco significativo, o que mostra que não se permanece em uma empresa apenas por questões financeiras.
A pessoa se sentir valorizada, parte da organização e conectada com a liderança direta têm um impacto muito grande na retenção de talentos. Pelo conceito da pirâmide de Maslow, se as necessidades básicas de uma pessoa não estiverem sendo sanadas, é possível que esse indivíduo sinta-se motivado a se movimentar. Mas se o pacote de remuneração e benefícios estiver dentro do padrão de mercado e o colaborador se sentir bem-vindo onde está, a concorrência terá mais dificuldade para atraí-lo.
A Pesquisa Engaja S/A, realizada pelo Talenses Group em parceria com a Flash Benefícios e a FGV, destaca alguns pilares que impactam a motivação dos profissionais. São seis dimensões: ambiente de trabalho positivo; significado do trabalho; confiança na liderança; boas práticas de gestão; crescimento e desenvolvimento; e remuneração e benefícios.
No mapeamento, 2736 pessoas do Brasil foram ouvidas. O resultado macro indica que apenas 4 em cada 10 profissionais estão engajados. Além disso, 90% dos colaboradores desengajados praticaram “quiet quitting”, a demissão silenciosa. Entre os ativamente desengajados, 27% pensam com frequência em pedir demissão.
Quando avaliamos para onde as empresas devem olhar, o pilar mais importante é a confiança na liderança, seguida de crescimento e desenvolvimento. Na sequência aparecem: as boas práticas de gestão; o ambiente de trabalho positivo; a remuneração e os benefícios; e o significado do trabalho.
Para os empregadores interessados em diminuir o turnover de suas equipes, a recomendação é focar a atenção na construção de relações de confiança entre líderes e liderados. As subescalas dessa ação envolvem transparência, investimento no desenvolvimento dos colaboradores e oferta de senso de propósito. Motivar os líderes a serem inspiradores também pode ajudar.
No pilar de crescimento e desenvolvimento entram treinamento e suporte no trabalho; capacitação e desenvolvimento; e cultura de aprendizagem. Inclui-se, também, abertura para mobilidade interna, lembrando que é sempre melhor colaboradores para oportunidades que existam dentro da organização do que para o mercado.
Ainda vejo no setor lideranças muito duras, autocráticas e pouco humanizadas. Se esse é o caso na sua companhia, creio que possa valer a pena algumas reflexões: “Qual é a abertura da alta direção da sua empresa para a implementação de ações em prol de lideranças mais empáticas?”; “A companhia realmente se preocupa com o desenvolvimento de seus colaboradores?”; e “Que tal iniciar essa jornada capacitando a liderança nas habilidades de apoio e acolhimento?”.
Aos interessados em ampliar o conhecimento sobre lideranças humanizadas e segurança psicológica, recomendo a leitura dos livros “Inteligência Emocional”, “Liderança” e “Optimal – Como atingir desempenho máximo nas equipes e na liderança”, de Daniel Goleman. Também indico “Os Líderes Comem por Último” e “Comece pelo Porquê”, de Simon Sinek, além de “O Poder da Segurança Psicológica”, de Amy Edmondson. No quesito comunicação, vale muito a leitura de “Supercomunicadores”, de Charles Duhigg. Para aprofundar ainda mais o tema, sugiro também “A Coragem de Ser Imperfeito”, de Brené Brown, e “Multiplicadores”, de Liz Wiseman. Há muitos vídeos e podcasts desses escritores disponíveis na Internet.
Começar a pensar nesses temas e, com passos de evolução, incluir ações de desenvolvimento individual como meta das lideranças para 2025 é um excelente caminho para começar a colher bons frutos.