Em assembleia geral na Indonésia, o Conselho de Manejo Florestal (FSC®, na sigla em inglês) aprovou a certificação de florestas “novas”, sob estritas condições. Foram 11 anos de negociações até a mudança na regra, que deve impactar diretamente o setor florestal no Brasil.
Anteriormente à decisão, uma “regra de ouro” do sistema FSC impedia certificação para florestas plantadas em áreas desmatadas após 1994. Agora, as áreas que foram convertidas entre 1994 e o fim de 2020, desde que de acordo com critérios severos de compensação, poderão obter a certificação.
Com isso, as empresas que têm responsabilidade pelo desmate da área que foi convertida em floresta terão que compensar cada hectare desmatado com um hectare recuperado. No caso de responsabilidade indireta, a taxa de restauração deve ser de 30% da área.
Outro fator para conseguir a certificação, as empresas terão que remediar eventuais danos sociais, independentemente de responsabilidade direta ou indireta.
Segundo Rafael Benke, CEO da Proactiva Results, empresa de consultoria na área de ESG e direitos humanos, os novos critérios do FSC são “um marco não somente para o segmento de florestas, mas para o desenvolvimento sustentável”.
“São centenas de milhões de hectares que poderão integrar o sistema FSC, mediante compensação socioambiental. Será um estímulo comercial para a integração dessas areas que, por consequência, vai gerar um impacto socioambiental positivo com as compensações”, disse o executivo.
Já para Lineu Siqueira Júnior, um dos fundadores do FSC e membro de seu Comitê de Políticas e Padrões, a medida não significa um incentivo ao desmatamento, mas uma normatização de questões de conversão (áreas desmatadas convertidas em plantações florestais), com princípios e regras rígidas.
BRASIL
O mercado brasileiro de florestas plantadas tem perto de 10 milhões de hectares, dos quais quase metade tem certificação FSC®. Com o selo, a indústria brasileira de papel e celulose, bem como outros mercados de base florestal, conquistaram espaço no mercado internacional.
Por essa razão, segundo Siqueira Júnior, houve resistência do segmento no país à alteração da regra, já que abre espaço para uma maior concorrência. A expectativa é que grandes empresas asiáticas entrem na disputa por fatias do mercado, agora com a possibilidade de certificação.
Contudo, conforme afirma o executivo, o Brasil está bem posicionado no que diz respeito a tecnologias e clientes, e também poderá lucrar, já que muitas empresas que estão ampliando as operações podem recorrer à nova regra.