Indústria brasileira de papel e celulose é uma das mais competitivas do mundo
O setor é impulsionado pela combinação entre qualidade do solo, disponibilidade de área para plantação de eucalipto e investimentos em inovação tecnológica
Combinando qualidade do solo e disponibilidade de área para plantação e investimentos em inovação tecnológica, a indústria brasileira de papel e celulose tornou-se uma das mais competitivas do mundo. A produtividade de eucalipto no Brasil, que em 1970 era de 10 metros cúbicos por hectare plantado, atualmente é de 36 metros cúbicos por hectare anualmente. Para efeito de comparação, segundo levantamento da consultoria Malinovski, feito em 2022, a China, que ocupa o segundo lugar mais competitivo no ranking global, produz cerca de 25 metros cúbicos por hectare de eucalipto plantado.
Em 2022, a produção brasileira foi de 24,9 milhões de toneladas de celulose e outros 11 milhões de toneladas de papel – um aumento de 11% e 3,5% na comparação com o ano anterior, respectivamente –, de acordo com a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).
Parte desse desempenho deve-se ao desenvolvimento de novas técnicas no campo, principalmente ao melhoramento genético das árvores. O processo vem de longa data. Começou há pelo menos 40 anos, de acordo com Sandro Ávila, diretor de operações florestais da Klabin. “Nas últimas décadas, essa técnica avançou tanto que hoje conseguimos acelerar a produção do pinus em até 15 anos, em vez dos 18 anos normais”, disse o executivo.
Segundo Ávila, o time de cientistas e pesquisadores dedicados ao estudo de inovações aplicadas a toda a cadeia produtiva reúne cerca de 150 profissionais. O principal centro de pesquisa e desenvolvimento da Klabin fica na cidade de Telêmaco Borba, no Paraná, onde são feitos todos os estudos que envolvem a cadeia florestal em várias frentes, do melhoramento genético à qualidade da madeira, qualidade do solo, variações climáticas, controle de pragas e inovações na área de biotecnologia.
De acordo com o executivo, o viveiro de 40 mil metros quadrados da empresa tem mais de 30 espécies ativas, ou seja, em observação e análise. “Você acompanha o desenvolvimento desses clones e avalia para qual tipo de solo eles são mais indicados, e se são indicados realmente, porque pode-se investir numa espécie geneticamente modificada que não performa. O problema é que para descartar um clone e migrar para outro pode demorar até dez anos”, afirmou.
No entanto, as inovações da companhia vão além da genética. Atualmente existe até monitoramento remoto de formigueiro e pulverização de defensivos agrícolas por drones, além de colheitadeiras com máquinas especiais para cada tipo de terreno – declive, aclive, entre outros acidentes geográficos.
Segundo Carlos Anibal de Almeida, diretor de operações florestais, logística e suprimentos da Suzano, há modelos científicos para tudo que envolve a produção: dos que apontam as características do solo, incluindo tipo de relevo, índices de insolação, umidade do ar, vento e precipitações pluviométricas. “É preciso entender a microrregião para ver qual tipo de clone melhor se adapta a cada área de cultivo”, destacou. Ainda segundo o executivo, a Suzano trabalha com mais de 30 mil tipos de clones diferentes e tem aproximadamente 300 tipos em operação.
Nesse sentido, um dos trabalhos em andamento é o desenvolvimento de clones mais tolerantes a regimes hídricos severos. Conforme Almeida, assim como outras empresas do agronegócio, a Suzano também está atenta às variações do clima, que têm levado chuvas intensas a algumas regiões do país e seca prolongada em outras.
As mudanças climáticas têm ditado o tom operacional nas indústrias de papel e celulose e o El Niño já está precificado. Nesse contexto, a Klabin criou um comitê de crise depois que uma estiagem prolongada, entre 2018 e 2021, elevou o risco hídrico em várias áreas onde a empresa possui fazendas plantadas de pinus e eucaliptos. “Nosso planejamento de curto prazo, de 18 meses, leva em conta os possíveis efeitos do El Niño. Isso implica ter estoque de floresta em pé para o caso de uma fazenda ser afetada e também plano de contingenciamento de transporte, caso tenhamos estradas bloqueadas por fenômenos climáticos”, disse Ávila.
Para Luiz Dutra, vice-presidente de assuntos corporativos da Bracell, as inovações não estão apenas no desenvolvimento das matérias-primas. “Somos tidos como fabricantes de commodities, mas poucos setores têm a dimensão dos investimentos feitos pelo setor de papel e celulose. Há muito valor agregado na produção brasileira”, afirmou. O executivo também lembrou que, desde 2018, os acionistas da Bracell investiram mais de R$ 20 milhões na construção de novas fábricas e em pesquisa e desenvolvimento.
De acordo com Renata Stringueta Nishio, diretora de assuntos corporativos da Ibá, atualmente o Brasil tem quase dez milhões de hectares de área plantada e outros seis milhões de hectares de áreas nativas preservadas. A executiva também destaca que, além da boa adaptação das culturas do eucalipto e do pinus, a indústria de papel e celulose trabalha com uma variedade de cinco mil bioprodutos, “todos de origem renovável, recicláveis e em sua maioria biodegradáveis”.
As empresas de papel e celulose também destacam a promoção da economia circular em suas linhas de produção. Segundo a Bracell, sua fábrica inaugurada, recentemente, em Lençóis Paulista, no interior de São Paulo, tem a maior e mais limpa caldeira de recuperação química do mundo – ela gera energia a partir da queima da fração orgânica do licor negro, um subproduto do processo fabril. “Esse método não apenas supre as demandas de energia da fábrica, como também produz um excedente de 150 MW a 180 MW, disponibilizado no grid nacional”, afirmou a empresa.