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Intergeracionalidade: choque, conflito ou sinergia de gerações

Por Ari Medeiros, executivo, conselheiro, mentor e palestrante

Nos dias atuais, muito se fala sobre o termo “choque de gerações”, tendo em vista as diferenças ou dificuldades que a sociedade enfrenta ao incluir num mesmo ambiente ou contexto pessoas de gerações antagônicas que coexistem entre si. 

Este tema me fascina e tenho me aprofundado cada vez mais em suas nuances e particularidades para poder contribuir neste entendimento e relativização tendo como ingrediente principal o respeito que deve prevalecer entre as relações de pessoas de gerações diferentes. 

DIFERENTES GERAÇÕES 

Nesta minha nova fase de conselheiro, mentor e palestrante, tenho me deparado com interfaces de quatro gerações diferentes. Esta prerrogativa não é minha e sim do mundo corporativo atual em que as empresas convivem com profissionais da geração “BB”/ Baby Boomers (hoje acima de 65 anos), geração X (entre 45 e 64 anos), geração Y/Millenials (entre 31 e 44 anos) e geração Z (hoje abaixo dos 30 anos). 

As próprias variações nas faixas etárias que caracterizam cada geração em particular já nos trazem a real dimensão das dificuldades neste inter-relacionamento entre as diferentes gerações (identificadas acima) e a dinâmica de evolução da sociedade e as transformações a nível da geopolítica, sustentabilidade e comportamento mundial que temos vivido neste século. 

Sou da geração BB e acompanhei muitas transformações neste meus 65 anos de vida, muito bem vividos e em constante aprendizagem e evolução (sou um adepto do conceito “lifelong learning”). Até os meus 40 anos, não ouvíamos falar da palavra “bullying” e toda minha geração conviveu e se divertiu muito com as piadas dos Trapalhões, Chico City e TV Pirata. Hoje, estes programas seriam intoleráveis no contexto atual da sociedade e está tudo certo, pois o entendimento desta evolução de comportamentos e o respeito ao novo ambiente social faz-se necessário e essencial para uma convivência harmoniosa entre as pessoas, a nível mundial. 

Na contrapartida da geração BB, existe a geração Z atual que se move pelo propósito, são nativos digitais, ansiosos, superficiais, ágeis, críticos e seletivos e que precisam ser compreendidos e respeitados, pois representam o maior contingente de pessoas no mundo. A geração Z sozinha soma mais de 2,5 bilhões de pessoas, a nível da sociedade mundial.  

Diante deste pequeno apanhado de informações descritas acima, considero fundamental o entendimento das características de cada geração e como buscar a melhor forma de interação e sinergia entre elas, chamado de intergeracionalidade. 

A seguir, irei contextualizar melhor o termo intergeracionalidade e incluir exemplos práticos para melhor entendimento deste tema. 

INTERGERACIONALIDADE 

A intergeracionalidade se refere às interações sociais entre pessoas de diferentes idades, baseadas em trocas de experiências de vida, valores e princípios. É uma abordagem que valoriza a participação de todas as faixas etárias na sociedade, promovendo a inclusão e o respeito mútuo entre as gerações. 

Defendo claramente neste artigo a importância de buscarmos a melhor sinergia entre as gerações para evitar o choque e conflito entre elas. Nada de contributivo extraímos da sociedade quando ao invés de entendermos as interações sociais entre pessoas de diferentes idades buscarmos acusações mútuas e falha no entendimento de que cada geração representa o estágio de evolução, valores e princípios que regem o momento dos indivíduos de cada sociedade, a nível mundial. 

Dentro da modernidade atual, interagindo opiniões particulares advindas de minha vivência como integrante da geração BB, mas adotando técnicas de IA (inteligência artificial) presentes e muito aplicadas por pessoas de todas as gerações, em especial a Z, transcrevo, a seguir, alguns benefícios, exemplos e desafios da intergeracionalidade. 

BENEFÍCIOS DA INTERGERACIONALIDADE 

  • Melhoria no sistema cognitivo e estado de humor: A troca de experiências entre pessoas de diferentes gerações pode estimular as funções cognitivas e psicossociais. 
  • Aumento da autoestima e bem-estar: A convivência intergeracional pode fortalecer laços afetivos e promover um senso de pertencimento. 
  • Transferência de cultura e valores: A intergeracionalidade permite a transmissão de conhecimentos, experiências e habilidades entre gerações. 
  • Mais longevidade e autonomia: A interação com pessoas mais jovens pode estimular os idosos a se manterem ativos e engajados. 

Lembrando que os jovens são o maior contingente da sociedade atual e que os idosos acima de 65 anos estão sendo cada vez mais longevos através da evolução da medicina, condições de saúde e ambientais, em especial, nas sociedades mais desenvolvidas. 

EXEMPLOS DE INTERGERACIONALIDADE 

  • Convivência familiar: A relação entre avós e netos é um exemplo comum de intergeracionalidade. No meio destas relações temos a chamada “geração sanduiche” composta por pessoas das gerações X e Y, que interagem com avós e netos e são fundamentais nestas interfaces, tanto a nível evolutivo como de manutenção / orientação para seu cuidado e subsistência. 
  • Projetos intergeracionais: Iniciativas que promovem a interação entre pessoas de diferentes idades em escolas, instituições de ensino e locais de trabalho. Na minha visão, o maior desafio das empresas nos dias atuais. Como interagir pessoas de 4 gerações diferentes num mesmo ambiente e cultura organizacional? 
  •  Programas de mentoria: Empresas que adotam programas de mentoria reversa, em que funcionários mais jovens compartilham conhecimentos em tecnologia e inovação com os mais experientes. E vice-versa, os profissionais experientes transmitindo suas competências e atalhos para os mais jovens entenderem que “não existe almoço grátis” e que a evolução de carreira requer conhecimentos, habilidades sociais , de liderança e vivências que só acontecem com a jornada bem construída e no tempo devido. 

DESAFIOS DA INTERGERACIONALIDADE 

  • Quebra de estereótipos e preconceitos: Superar visões estereotipadas sobre as gerações e promover a compreensão mútua. 
  • Falta de oportunidades e espaços: Criar ambientes que facilitem a interação entre pessoas de diferentes idades. 
  • Esforço conjunto: Todas as partes envolvidas precisam estar dispostas a aprender e se adaptar. ‎ 

Portanto, concluo este meu artigo enfatizando que tudo passa pelo respeito e entendimento das características dominantes em cada diferente geração e a necessidade imperiosa que a sociedade (pais/famílias,  líderes, executivos, mentores, governantes, professores, etc.) tem em buscar as melhores formas de fortalecer as sinergias e evitar o conflito de pessoas de gerações diversas mas que precisam coexistir e conviver num ambiente sadio e de respeito mútuo para uma sociedade mais justa, equilibrada e humanizada. 

O que acharam de minhas visões sobre a intergeracionalidade? Gostaria de receber seus comentários à respeito. Abraços!

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Ari Medeiros

Ari é um executivo, conselheiro, mentor e palestrante com mais de 41 anos de experiência em grandes empresas do setor de celulose, papel e logística. Sua experiência profissional inclui 15 anos como Diretor de Operações Industriais da Veracel Celulose, onde liderou projetos estratégicos e contribuiu para o crescimento e a eficiência da empresa.
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