Navigator suspende produção de celulose pela primeira vez em Aveiro, Portugal
Falta de madeira nacional e custos de importação tornam operação economicamente inviável
A The Navigator Company suspendeu, pela primeira vez, a produção de celulose na fábrica de Aveiro, em Portugal, devido à escassez de madeira nacional. A paralisação inédita, que se estendeu até 29 de outubro, foi motivada pelo desequilíbrio entre o preço da celulose no mercado spot e o elevado custo da importação de madeira de origens mais distantes, tornando a operação contínua economicamente insustentável.
Segundo fontes, “esta foi a primeira vez que a unidade de celulose de Aveiro interrompeu a produção devido à escassez de madeira nacional”. A empresa reforçou ainda ter alertado repetidamente para os efeitos das restrições à plantação de eucalipto impostas pela legislação portuguesa, que considera prejudiciais à competitividade do setor.
Inicialmente, a suspensão deveria durar mais de um mês. No entanto, o incêndio na fábrica de Setúbal, no fim de julho, alterou o plano. “O incêndio obrigou à suspensão temporária dessa instalação, reduzindo assim a necessidade de madeira marginal”, explicou a Navigator. Com isso, o período de paragem em Aveiro foi reduzido para cerca de 11 dias.
A empresa informou que a unidade de produção de tissue de Aveiro não sofreu impactos, sendo abastecida por stocks de celulose e também pela integração com a produção do complexo industrial da Figueira da Foz. Se necessário, a companhia considera igualmente a aquisição de celulose nos mercados internacionais, que se encontram em situação de sobreoferta.
A The Navigator Company assegurou que os clientes de celulose de Aveiro “não foram afetados”, tendo sido atendidos por meio de stocks ou pela produção da Figueira da Foz. Dessa forma, “o impacto na conta de exploração da pasta de celulose acabou por ser positivo”, informou a empresa.
Em 2024, o autoabastecimento de madeira, oriunda de patrimônio próprio e arrendamentos, representou apenas 13% das necessidades do grupo. Em 2021, 65% da madeira utilizada era nacional, 10% proveniente de Espanha e 25% importada de fora da Península Ibérica. Essa dependência crescente, responsável por 188,6 milhões de euros em importações só em 2023, é considerada “muito relevante” e poderia ser reduzida, segundo a empresa, “com grandes contributos para a economia nacional, se a legislação o permitisse”.
Para enfrentar o cenário, a Navigator tem diversificado a origem da matéria-prima, abastecendo-se não apenas na Galiza e em Moçambique, mas também em outras regiões espanholas, como Cantábria, Andaluzia e Estremadura, e em países da América do Sul, incluindo Uruguai e Brasil. A empresa já recorreu, ainda, a fornecedores do Chile, República Democrática do Congo, Argentina e África do Sul.
“Esta diversidade de origens faz parte da estratégia da Navigator, centrada na diversificação geográfica dos fornecedores e na otimização da cadeia de abastecimento”, destacou fonte oficial. Ainda assim, devido às atuais limitações legais para a expansão florestal em Portugal, “o recurso à importação será sempre uma necessidade não evitável no curto, médio e longo prazo”, concluiu.
Na divulgação dos resultados de 2024, a companhia classificou como “chocante” o baixo investimento na reabilitação das áreas florestais nacionais, que estaria comprometendo a sustentabilidade da indústria florestal — “apesar da importância que este tem para Portugal, tanto a nível económico, ambiental e social”.










