Paracel se prepara para seu start-up atenta à falta de madeira
Em entrevista exclusiva ao Portal Celulose, o CEO Flavio Deganutti destacou que a preparação da empresa está dentro do cronograma e, hoje, do ponto de vista florestal, opera a plena capacidade
O setor tem acompanhado com grande expectativa o desenvolvimento da Paracel, primeira fábrica de celulose do Paraguai, com previsão de entrar em operação em 2027 e produzir 1,8 milhão de toneladas de celulose. Em entrevista exclusiva ao Portal Celulose, Flavio Deganutti, CEO da companhia, destacou que a preparação está dentro do cronograma – que foi reduzido em dois meses – e, hoje, do ponto de vista florestal, opera a plena capacidade.
De acordo com o executivo, a decisão de estabelecer um novo player do setor no Paraguai foi motivada por vários fatores. “Não é muito fácil encontrar sites propícios, pois deve ter áreas extensas e aptas para a produção florestal, um regime de chuvas adequado, capacidade de escoamento logístico, estabilidade econômica e estabilidade de moeda”, lista Deganutti.
Formada pela sociedade entre o Grupo Heinzel e grupos familiares do Paraguai e da Europa – Zapag e Girindus, respectivamente –, a Paracel será instalada em uma área recuperada pela degradação da pecuária e deve somar uma área plantada de mais de 40 mil hectares até o final de 2023. “Estamos plantando a um ritmo de 2.500 hectares todos os meses. A constituição da base florestal da empresa é de 53% de áreas plantadas e 47% de áreas protegidas”, conta o CEO.
Atualmente, a planta industrial se encontra em estágio de terraplanagem em uma área de 6 milhões de metros cúbicos, dos quais 3.4 milhões de metros cúbicos já estão preparados. Flavio Deganutti destaca ainda que a Paracel já constrói as bases que serão usadas pelas empresas que vão construir a fábrica nos próximos anos. “No pico de obras, serão cerca de 9 mil pessoas”, diz.
FALTA DE MADEIRA
Atenta aos desafios do setor, a Paracel busca também se preparar para seu start-up em 2027 considerando o desequilíbrio entre a oferta e demanda de madeira no mundo. Conforme destaca Deganutti, o aumento de preço ocorre pela demanda alta em um contexto de oferta limitada, considerando os diversos setores que utilizam as florestas plantadas como matéria-prima.
Além disso, outros fatores se somam a este cenário, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, que gerou sanções ao país comandado por Vladmir Putin e limitou o abastecimento europeu de alguns tipos de madeira.
“Por isso, a única solução para isso, hoje, é plantar. Várias indústrias buscam áreas para plantar e o Paraguai é uma grande opção para isso”, declarou o executivo. O CEO ressalta, ainda, que a companhia possui uma estratégia a longo prazo para sua operação para lidar com este cenário. “A Paracel hoje já comprou madeira em pé para os seus três primeiros anos”, completou.
Diante disso, a companhia segue a plantar o máximo possível, já mirando a próxima década e avaliando que a escassez de madeira deve continuar nos próximos anos.
MOVIMENTAÇÃO DA ECONOMIA LOCAL E PERSPECTIVA GLOBAL
A Paracel tem um investimento estimado de US$ 4 bilhões para sua construção, e uma expectativa de movimentar a economia local, bem como todo o setor de celulose na América Latina. “É um investimento feito para certamente muito mais do que 50 anos, que também permite acessar o mercado de carbono e restaurar áreas”, comentou Flavio Deganutti.
Com oportunidades em diferentes aplicações – desde papéis sanitários até embalagens de papel – a commodity tem observado um mercado mais aquecido, principalmente na China – principal destino da celulose exportada no Brasil, por exemplo. Outros fatores que impulsionam esse desenvolvimento são a substituição de materiais plásticos por outros à base de fibras e a oportunidade de crescimento do consumo de papéis higiênicos em diversos países, como a Índia, conforme cita Deganutti.
“Temos um grande drive de demanda no próprio mundo da celulose, com papéis higiênicos e papéis de embalagens como dois grandes exemplos. China e Índia também são duas grandes âncoras para esse consumo”, afirmou o executivo.
Flavio ressalta também a competitividade da América do Sul ante outros mercados. “A oferta vinda do hemisfério norte tende a ser mais difícil. Primeiro porque são fábricas que já têm uma idade bastante avançada, precisam de um reinvestimento importante e o custo não é dos melhores, diferente da realidade aqui das fábricas no Paraguai, Brasil, Uruguai e Chile”, explicou o CEO.
Confira a entrevista na íntegra: