Para a maior produtora de celulose de mercado do mundo, o desequilíbrio entre a oferta e demanda de madeira deve perdurar e se agravar nos próximos anos.
De acordo com Carlos Anibal Almeida, diretor de operações florestais, logística e suprimentos da Suzano, alguns dos fatores que contribuem para este cenário incluem mudanças climáticas, crescimento mais lento da área plantada de florestas em relação ao ritmo de adição de novas capacidades fabris e custos mais altos de plantio. Assim, conforme avalia o executivo, a indústria deve colocar a produtividade florestal no centro de seu planejamento estratégico.
Segundo dados do relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o consumo de madeira cresceu 28% mundialmente, enquanto a disponibilidade subiu apenas 4% nos últimos 30 anos.
“Os eventos climáticos severos têm sido mais recorrentes, trazendo queimadas em florestas, pestes e doenças. Isso está afetando a disponibilidade de madeira”, observou Anibal.
No mercado brasileiro, enquanto a área plantada de eucalipto aumentou 10% desde 2018, para 7,5 milhões de hectares, o consumo desse tipo de fibra cresceu 26%. Nesse sentido, segundo levantamento da Afry, as novas fábricas de celulose contribuíram para o avanço da demanda, dobrando o preço deste insumo entre 2021 e 2023.
DISPONIBILIDADE DE OFERTA
Já na oferta, maiores custos de plantio – ultrapassando a inflação – e a concentração de chuvas em regiões de plantio afetaram a produtividade do setor brasileiro.
No Canadá, por sua vez, as queimadas afetaram 3,5 milhões de hectares nos últimos três anos. O país é um importante produtor de celulose, com cerca de 7 a 8 milhões de toneladas por ano.
A América do Sul e a Península Ibérica, regiões relevantes para a oferta de fibra curta, também foram atingidas por incêndios que consumiram áreas cultivadas. Em contrapartida, há ainda países – como Portugal – que seguem um movimento contrário ao plantio de florestas.
Adicionalmente, vale ressaltar que a Rússia era um fornecedor de cavacos de madeira para a produção de celulose, e desde o início da guerra contra a Ucrânia tem recebido sanções mundialmente.
DEMANDA
Além das novas fábricas de celulose, o uso da biomassa para energia cresce em diferentes países, puxando a demanda de madeira no mundo. “É muito desafiador quantificar esse desbalanço [à frente], mas, no nosso entendimento, ele tende a ser mais severo”, o diretor da Suzano.
Prestes a iniciar uma nova fábrica de celulose em Ribas do Rio Pardo (MS), a Suzano antecipou este cenário e de1,37 milhão de hectares plantados em 2020, a companhia pretende chegar a 1,7 milhão de hectares no ano que vem – quando o Projeto Cerrado deve entrar em operação. “Percebemos esse movimento e arrendamos mais, a preços menores que os atuais, compramos mais áreas”, explicou Anibal.
O executivo destaca, ainda, que a companhia colocou em marcha um programa robusto de aumento da produtividade (IMA), reconhecendo que as mudanças climáticas terão impacto. Diante disso, a empresa passa por trabalhar com materiais genéticos mais resistentes e com microzoneamento, que implica desenvolver modelos matemáticos para fazer previsões meteorológicas para áreas cada vez menores. “A partir desses dados, fazemos todo o planejamento florestal”, conta.
A companhia já registrou ganho de 92% em Imperatriz (MA), onde pode produzir 1,7 milhão de toneladas por ano de celulose.