Produtoras finlandesas de celulose passam por crise
UPM e Stora Enso enfrentam desafios na Europa e na América Latina
As empresas florestais finlandesas estão enfrentando uma situação crítica que surpreendeu os especialistas. Durante o período de março a junho, a Stora Enso informou uma queda de 93% em seu balanço, enquanto a concorrente UPM registrou queda de 71% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
A Stora Enso, em parceria com o grupo chileno Arauco, desde 2009, opera a fábrica de celulose Montes del Plata, em Conchillas, no Uruguai. Globalmente, a crise dessa empresa finlandesa é de grande magnitude, uma vez que no primeiro semestre deste ano registou lucros de apenas € 37 milhões, ante os € 505 milhões obtidos nos primeiros seis meses do ano anterior.
Essa crise levou a decisões drásticas, como o fechamento de dois complexos industriais na Finlândia: a fábrica de papel Anjala, com 240 funcionários, e a fábrica de celulose Sunila, com 700 funcionários, resultando na perda de empregos. Além disso, Annika Bresky, que ocupava o cargo de CEO da Stora Enso desde 2019, deixou seu posto.
Enquanto isso, a UPM inaugurou recentemente sua segunda fábrica de celulose em Paso de los Toros, no Uruguai. Essas plantas se tornam o centro da estratégia da empresa para manter a confiança de seus acionistas e enfrentar as ameaças que afetam seus negócios globalmente.
RESULTADOS DA UPM
A UPM Kymmene Corporation, sediada na Finlândia, anunciou em seu Relatório Financeiro Semestral de 2023 uma impressionante queda de 71% em seus lucros em comparação com o ano anterior. O relatório também revela uma redução significativa no percentual de lucro operacional comparável, caindo de 15,1% para 4,5%, surpreendendo os acionistas. Entre as razões por trás dessa queda alarmante a empresa aponta a contínua desestocagem no setor de celulose e um rápido declínio nos mercados internacionais. A queda acentuada nos preços globais da celulose durante os meses de abril a junho agravou ainda mais a situação, levando ao que a empresa descreveu como um “resultado decepcionante”.
O lucro global da UPM ficou em aproximadamente € 114 milhões, uma diferença de € 273 milhões, face ao mesmo período do ano passado, quando atingiu € 387 milhões. As perspectivas para o restante de 2023 não são animadoras, já que o índice comparável deve cair ainda mais a partir de 2022.
DEMISSÕES EM MASSA E FECHAMENTO DE FÁBRICAS
Em resposta a essa situação financeira adversa, a UPM tomou medidas drásticas para reduzir seus custos fixos e variáveis. Essas ações começaram com a venda de todas as suas operações russas em abril, citando o conflito na Ucrânia como justificativa. Em maio, foram anunciadas as demissões de 370 funcionários da fábrica de celulose Kaukas-Lappeenranta – uma das principais instalações da UPM na Finlândia. Essas demissões foram realizadas em agosto, coincidindo com a parada anual programada para manutenção da usina.
No entanto, a situação tornou-se ainda mais problemática em Kaukas devido à declaração de emergência ambiental na cidade de Valtakau, localizada próxima à fábrica de celulose. As autoridades finlandesas confirmaram a emissão de gases tóxicos de enxofre em Kaukas, afetando os moradores da região. Em contraste com outros países onde a UPM opera fábricas de celulose com emissões semelhantes, a empresa agora enfrenta sanções econômicas impostas pelo governo finlandês e a responsabilidade de compensar as pessoas afetadas pela poluição em Valtakau.
CUSTOS DE REESTRUTURAÇÃO E PERSPECTIVAS FUTURAS
O processo de reestruturação da UPM custou até o momento, mais de € 200 milhões. Isso inclui verbas rescisórias, suspensões de funcionários, pagamentos pendentes a fornecedores, arrendamentos e desmontagem de fábricas fechadas. Quando esse processo estiver concluído, a UPM espera poupar cerca de € 60 milhões por ano em custos fixos.
ORION E TAURUS: UM FUTURO INCERTO
Para contrabalançar os maus resultados do primeiro semestre de 2023, o presidente e CEO da UPM, Jussi Pessonen, destacou a importância da capacidade de celulose da empresa no Uruguai. Segundo Pessonen, o Uruguai oferece uma plataforma de negócios competitiva e oportunidades de crescimento de longo prazo em biomateriais. As fábricas de celulose de Fray Bentos e Paso de los Toros, conhecidas como Orion e Taurus, respectivamente, desempenharão um papel fundamental nessa estratégia, apesar dos desafios operacionais que enfrentaram no passado.