Suzano reajusta preços da celulose após paralisação na China impactar oferta global
Crise na Chenming retira cerca de 200 mil toneladas mensais do mercado, reduz estoques e aquece demanda global por celulose

A paralisação de uma grande papeleira chinesa gerou um aumento inesperado na demanda por celulose, criando um cenário favorável para os preços no início deste ano. “Vimos uma espécie de estabilização seguida de um ligeiro aumento nas últimas semanas”, afirmou Beto Abreu, presidente da Suzano.
O impacto da interrupção das operações da Chenming intensificou a pressão sobre o fornecimento da Suzano, que já operava com estoques reduzidos após um bom desempenho de vendas no fim do ano. Além disso, o primeiro trimestre concentra paradas de manutenção programadas, diminuindo o volume disponível. De acordo com a companhia, cada mês de paralisação da Chenming retira cerca de 200 mil toneladas de celulose do mercado. “Teremos dificuldades no primeiro trimestre para recuperar o desempenho no Oriente Médio, Ásia e África, porque as vendas nesses mercados excederam nossas expectativas”, disse Leonardo Grimaldi, vice-presidente executivo de comercial e logística de celulose da Suzano.
Apesar do cenário desafiador, Grimaldi acredita que o impacto será temporário. “É uma situação bastante complexa, mas acreditamos que é temporário”, afirmou.
Com produção anual de 2,7 milhões de toneladas, a Chenming é uma das maiores fabricantes de celulose e papel da China, mas enfrenta uma grave crise financeira, resultando na paralisação de boa parte de suas operações. A empresa, que costumava vender seu excedente de celulose ao mercado, agora contribui para uma maior restrição na oferta global, o que impulsionou os preços da commodity.
Diante desse movimento, a Suzano anunciou dois reajustes consecutivos para janeiro e fevereiro. O primeiro já foi aplicado, e o segundo está em andamento. “Essas questões conjunturais favoreceram alguns movimentos de preço, mas é cedo para falar em qualquer mudança de tendência”, avaliou Abreu.
Outro fator que tem sustentado os preços é a migração da demanda da fibra longa para a fibra curta, devido à diferença de preços entre elas. Segundo Marcos Assumpção, vice-presidente executivo de financeiro e relações com investidores da Suzano, o chamado “spread” está acima de US$ 200, um dos níveis mais altos já registrados.
Além dos fatores conjunturais, o câmbio favorável e o aumento da produção da unidade de Ribas do Rio Pardo (MS), que ainda não atingiu plena capacidade, devem contribuir para os resultados da empresa nos próximos meses.
No quarto trimestre, a Suzano registrou receita líquida de R$ 14,17 bilhões, alta de 16% em relação ao mesmo período de 2023. As vendas totalizaram 3,71 milhões de toneladas – sendo 3,28 milhões de toneladas de celulose e 430 mil toneladas de papel –, uma expansão de 24%. Já o Ebitda ajustado caiu 1%, para R$ 6,48 bilhões, com margem de 46%, uma redução de sete pontos percentuais no ano. A geração de caixa operacional avançou 10%, alcançando R$ 4,84 bilhões.
Por outro lado, a valorização do dólar impactou o resultado financeiro da empresa, que tem a maior parte de suas dívidas na moeda americana. No fim de dezembro, o resultado financeiro líquido foi negativo em R$ 15,55 bilhões, ante um saldo positivo de R$ 2,27 bilhões no mesmo trimestre do ano anterior. Com isso, a Suzano encerrou o período com prejuízo líquido de R$ 6,74 bilhões, revertendo o lucro de R$ 3,23 bilhões registrado no quarto trimestre de 2023.