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Projeto Cerrado: Suzano alia inovabilidade e ESG em expansão

Em entrevista exclusiva, Aires Galhardo, diretor executivo Industrial de Celulose, Engenharia e Energia da Suzano, traz detalhes sobre projeto bilionário que ampliará a capacidade da produtora de celulose

A celulose é um material de grande importância para a indústria global que se evidencia no mercado brasileiro, no qual tem alta relevância tanto para exportação quanto para cadeias produtivas variadas. Isso se dá em razão de a commodity servir para diversas aplicações, sendo um dos materiais mais versáteis do mundo e que faz parte do cotidiano das pessoas sob a forma de produtos essenciais diversos.

Nesse sentido, o Brasil tem se destacado entre os maiores produtores globais de celulose, ocupando o segundo lugar na fabricação e o primeiro em exportação. Em 2021, segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), a produção de celulose no país atingiu o recorde de 22,5 milhões de toneladas.

Responsável por parte considerável dessa produção, a Suzano tem capacidade para produzir cerca de 10,8 milhões de toneladas anuais, alcançando a posição de maior produtora de celulose de eucalipto do mundo. A companhia brasileira tem apresentado um crescimento considerável nos últimos anos, acompanhando a tendência de fortalecimento da indústria de base florestal, no cenário em que a sustentabilidade ganha cada vez mais força. Para Aires Galhardo, diretor executivo Industrial de Celulose, Engenharia e Energia da Suzano, esse movimento em busca de produtos mais ecológicos deve se intensificar nos próximos anos, impulsionando o setor como um todo.

“A Suzano enxerga um crescimento robusto de demanda no mercado global e faz parte de sua estratégia atender os clientes e a sociedade, que está cada vez mais preocupada com o consumo consciente e interessada em comprar produtos de origem renovável, como aqueles derivados do eucalipto plantado”, afirmou o executivo, em entrevista exclusiva ao Portal Celulose.

É nesse contexto de crescimento que a empresa desenvolve o Projeto Cerrado, um dos maiores investimentos privados em curso no país, que conta com um aporte total estimado em R$ 19,3 bilhões, para a construção de uma nova fábrica em Ribas do Rio Pardo (MS). A unidade tem previsão de entrar em operação no segundo semestre de 2024 e será a mais competitiva dentre as plantas da Suzano.

DIFERENCIAIS DO EMPREENDIMENTO

  • Menor custo caixa do mundo

A nova fábrica será a maior linha única de celulose de eucalipto do mundo, com capacidade de 2,55 milhões de toneladas anuais, fazendo com que a companhia se aproxime da capacidade total de mais de 13 milhões de toneladas por ano. Um diferencial importante é que o projeto está sendo desenvolvido para alcançar esse resultado com o menor custo caixa de produção do mundo.

Conforme explica Aires Galhardo, o raio médio estrutural da base florestal que abastecerá a unidade é de apenas 65 km, inferior ao raio médio atual da Suzano, de aproximadamente 220 km. A logística inbound da unidade contará com 50% das operações feitas por veículos hexatrem, o que garante menores custos e emissão reduzida de gases de efeito estufa na atmosfera. O projeto também prevê o uso de equipamentos de última geração que são referência mundial em competitividade e sustentabilidade.

  • Fábrica mais verde do setor

Seguindo o propósito da Suzano – que é “renovar a vida a partir da árvore” – e o conceito de inovabilidade, que consiste na inovação a serviço da sustentabilidade, a fábrica será a mais verde do setor.

“Isso significa que ela foi estruturada de forma a garantir que a adoção das melhores práticas e a escolha de equipamentos resultem em uma fábrica competitiva e com importante contribuição ambiental”, detalhou Galhardo.

Nesse sentido, a unidade adotará a gaseificação da biomassa para substituição de combustível fóssil nos fornos de cal, um novo marco da Suzano em ecoeficiência. Como resultado, a empresa terá um excedente de aproximadamente 180 megawatts médios, energia que será exportada para a rede e que é suficiente para abastecer uma cidade com 2,3 milhões de habitantes por um mês.

Foto: Suzano

O Projeto Cerrado também contempla o uso eficiente da água na nova unidade, uma vez que 85% do volume captado no Rio Pardo será tratado no processo produtivo, antes de ser devolvido ao meio ambiente.

Além disso, a nova fábrica busca diminuir seu impacto ambiental até o fim da linha de produção, ou seja, há uma preocupação com o destino correto de seus resíduos. “Reduziremos em 70% o total de resíduos industriais destinados aos aterros e mais de R$ 80 milhões serão investidos nas Unidades de Conversação do Mato Grosso do Sul por meio de compensação ambiental”, ressaltou Aires.

      • Fomento à economia local

Ao longo de todo o Projeto Cerrado, milhares de empregos serão gerados direta e indiretamente na região de Ribas do Rio Pardo. Já em operação, a nova fábrica da Suzano terá três mil postos de trabalho, diretos e indiretos, para as operações industrial e florestal. No pico da obra, estima-se a criação de dez mil empregos – hoje, esse número é de cerca de seis mil trabalhadores.

De acordo com Galhardo, a construção da nova fábrica segue o princípio de “só é bom para nós se for bom para o mundo”, um dos direcionadores de cultura da companhia. “Nós sabemos que o sucesso do nosso negócio é fruto do desenvolvimento econômico e social”, disse o executivo.

Foto: Prefeitura de Ribas do Rio Pardo

É com essa premissa que a companhia tem investido na comunidade onde atuará. “Nós buscamos transformar nossa presença no Mato Grosso do Sul em um legado social e estamos dando a nossa contribuição e buscando proporcionar à comunidade de Ribas do Rio Pardo uma melhoria concreta na qualidade de vida por meio de ações e investimentos robustos na área social”, declarou.

Com essa perspectiva, a Suzano tem fomentado a economia local de diversas maneiras, o que incluiu os cursos de capacitação que oferece durante todas as etapas da construção. Atualmente, conforme conta Aires, já foram abertas mais de 600 vagas em cursos com bolsas de estudo, que já formaram centenas de pessoas nas áreas industrial e florestal.

A companhia também incentiva jovens e adultos de Ribas do Rio Pardo a concluírem os estudos e terem mais chances de emprego por meio de auxílio nas inscrições para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) e com o curso preparatório para a prova 100% gratuito e sem limite de número de participantes.

Ademais, a empresa tem ampliado seu fomento à economia para outros municípios da região, a fim de qualificar micro e pequenas empresas para tornarem-se aptas para atuar como fornecedoras da Suzano, ou até mesmo de outras indústrias.

Entre outras iniciativas para a melhoria de vida da comunidade local, estão a capacitação de professores com o Programa Suzano de Educação (PSE) e o Programa de Apoio à Gestão Pública (AGP), que fortalece o desenvolvimento territorial local por meio da articulação de parcerias e recursos.

Foto: Suzano

Vale mencionar, também, as iniciativas previstas no Plano Básico Ambiental (PBA), com um investimento de R$ 48 milhões nas áreas de saúde, educação, habitação, segurança pública e segurança no trânsito do município.

“Também já demos início a iniciativas sociais, como o apoio técnico a agricultores familiares de dois assentamentos do município de Ribas do Rio Pardo para a produção de alimentos por meio do Sistema Agroflorestal (SAF)”, acrescenta Aires. “E, em breve, novos e importantes investimentos na área social serão anunciados”, completou.

      • Operação florestal

Para abastecer o Projeto Cerrado, a Suzano precisará de cerca de 250 mil hectares de florestas plantadas em áreas próprias, arrendamento e parcerias, além da compra de madeira de terceiros futuramente, de acordo com Galhardo. No entanto, segundo o executivo, para iniciar as operações no segundo semestre de 2024, “a Suzano já possui o suprimento de madeira necessário, proveniente de áreas próprias e de terceiros”.

Apesar da alta concentração da demanda por madeira em Mato Grosso do Sul, razão que tem dificultado o acesso ao insumo – com oferta limitada e preços crescentes – entre os produtores de celulose, Aires afirma que a Suzano já possui praticamente toda a madeira assegurada para a evolução das operações até 2030. Esse prazo marca a conclusão do primeiro ciclo florestal da fábrica em Ribas do Rio Pardo.

O diretor executivo reforça, ainda, que os plantios da empresa são realizados em áreas antropizadas anteriormente por outras culturas, ou seja, são áreas em que o plantio de eucalipto pode contribuir para a recuperação da capacidade de absorção de carbono da atmosfera.

Foto: Suzano
      • Emissões de carbono

De acordo com Galhardo, o Projeto Cerrado terá um papel importante no que se refere à capacidade de absorção e emissões do gás carbônico. Na frente de absorção, em razão da conversão das áreas antropizadas anteriormente por outras culturas – prática que a Suzano tem intensificado –, o plantio de eucalipto tem sido vantajoso para a atmosfera.

“Um dado importante é que, com a ampliação de áreas no Mato Grosso do Sul, a Suzano já planta diariamente cerca de 800 mil mudas de eucalipto em todo o Brasil. Isso significa que as áreas florestais da Suzano, seja de plantio, seja de conservação, conseguirão retirar ainda mais gases de efeito estufa da atmosfera”, falou.

Já na frente de emissões, Aires reforça que o projeto foi pensado para assegurar o uso eficiente dos recursos renováveis, bem como a gestão de resíduos, a produção de um excedente de energia verde, além de substituição de combustíveis fósseis por combustíveis renováveis na linha industrial e na operação logística. “Dessa forma, a Suzano, que já é uma empresa climate positive, ampliará ainda mais sua contribuição líquida (emissão versus absorção) ao meio ambiente”, apontou.

NOVOS MERCADOS PARA A CELULOSE

Com o incremento na capacidade, a nova fábrica também expande as possibilidades da Suzano para explorar novas aplicações sustentáveis para a fibra. Um exemplo é o investimento em curso de uma nova fábrica de fios têxteis na Finlândia, em parceria com a Spinnova.

Outros estudos de aplicabilidade já estão em desenvolvimento na companhia no Brasil, como a produção do bio-óleo, um combustível orgânico com potencial para substituir o petróleo, sendo renovável e derivado do processamento de resíduos florestais.

“Entendemos que as opções de novas aplicações são diversas, incluindo a indústria têxtil, o mercado de bio-óleo e a aplicação da lignina na substituição de derivados do petróleo, entre outras iniciativas”, observou.

COMPANHIA INTENSIFICA AGENDA ESG

A maior produtora de celulose de eucalipto do mundo possui experiência na construção de outras fábricas na região de Mato Grosso do Sul, com sua unidade em Três Lagoas, além de outras plantas em outras regiões do país. Esse conhecimento, segundo Galhardo, ajuda a identificar inúmeras ações que são relevantes para viabilizar a implantação da nova unidade.

“É uma equipe que tem atuado de forma a assegurar a manutenção e intensificação de todas as medidas de prevenção e controle de impactos já adotadas pela Suzano, considerando município e comunidades locais”, concluiu o executivo.

O Projeto Cerrado está alinhado ao conjunto de metas de longo prazo da companhia, chamadas “Compromissos para renovar a vida”, e que estão diretamente conectadas à agenda ESG.

Alguns exemplos são a meta de, até 2025, remover mais 40 milhões de toneladas de carbono da atmosfera, e, até 2030, disponibilizar 10 milhões de toneladas de produtos de origem renovável para substituir plásticos e derivados do petróleo.

Essas são metas ambiciosas que trarão uma importante contribuição no combate à crise climática e que podem ser acompanhadas pelo público geral na Central de Sustentabilidade.

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Bianca Machado

Bianca Machado é jornalista, pós-graduada em Gestão da Comunicação Digital e Mídias Sociais e desde 2021 escreve sobre os mercados de papel e celulose.

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