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Biodiversidade, clima e as florestas: elo crucial para a saúde do planeta

Por Patrícia Machado, gerente de Políticas Florestais e Bioeconomia da Ibá, engenheira florestal, mestre e doutora pela Universidade Federal de Viçosa (UFV)

A crise climática ganha cada vez mais espaço nas páginas dos jornais. Desastres ambientais como enchentes, secas intensas, queimadas, surtos de pragas e doenças, sempre acompanharam a história da humanidade. No entanto, tais eventos estão cada vez mais frequentes e intensos.

Segundo o último report da FAO sobre “O Impacto dos desastres e crises na agricultura e segurança alimentar”, a perda econômica associada a desastres climatológicos, hidrológicos, biológicos foi de aproximadamente US$ 170 bilhões por ano na última década, com picos em 2011 e 2017. De acordo com o mesmo estudo, entre 2008 e 2018, aproximadamente US$ 29 bilhões foram perdidos, apenas na América Latina e no Caribe, como resultado de quedas na produção agrícola e pecuária, após os desastres. Olhando diretamente para a população mundial, segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), se não tomarmos ações enérgicas pelo clima, 200 milhões de pessoas por ano até 2050 se tornarão refugiados climáticos.

A perda de biodiversidade é outro ponto crítico. Segundo pesquisa do Fórum Econômico Mundial, a humanidade já causou a perda de 83% dos mamíferos selvagens e metade das plantas. E o pior, se mantivermos o atual ritmo de exploração dos recursos naturais, estima-se que entre 30% e 50% das espécies podem desaparecer até meados do século 21. Ou seja, as espécies serão perdidas sem ao menos serem conhecidas pela ciência. Trata-se de um verdadeiro universo de possibilidades de substâncias com grande potencial, incluindo remédios e vacinas, que se perde junto a essas espécies.

Embora o mundo esteja se organizando em convenções e acordos internacionais para evitar um colapso causado pelas crises ambientais, o fato é que estamos caminhando a passos lentos. Infelizmente, em 2022, o mundo perdeu o equivalente à Suíça em florestas tropicais primárias ou 4,1 milhões de hectares, segundo o Global Forest Watch. O Brasil, com toda sua exuberância ambiental, liderou esse triste ranking de desmatamento, com mais de 1,5 milhão de hectares perdidos.

Hoje, 17 de julho, Dia Mundial de Proteção às Florestas, é momento mais do que propício para refletirmos (sobre) nossas ações e como podemos reafirmar nossos compromissos, que residem entre as responsabilidades de líderes mundiais, mas também demanda profundo engajamento da sociedade, setor privado e governos para que se concretize. O desafio é enorme. Mais do que nunca é preciso fazer um esforço e trabalhar ativamente pela preservação e uso sustentável das florestas.

Embora tenhamos grandes desafios no Brasil, também há muito no que se inspirar para trilhar essa jornada. O país tem ativos que nos colocam na posição privilegiada para liderar a agenda ambiental. Mais de 60% do território é coberto por vegetação nativa. A maior floresta tropical do mundo, que concentra 20% da  biodiversidade mundial, reside em nosso país. Além disso, o Brasil tem 12% das reservas de água doce de todo o mundo e nossa matriz energética é, em média, 47% renovável, índice muito maior do que a média mundial.

Mas esse patrimônio que a Amazônia representa está enfrentando grandes desafios para sua preservação, como o garimpo ilegal, desmatamento, grilagem e as queimadas. Para evitar este fim, temos que  dar à floresta amazônica, e a todos os ricos biomas brasileiros, o destino da bioeconomia, da inovação verde, do uso sustentável dos recursos naturais e do desenvolvimento socioambiental por meio da valorização da floresta em pé.

Há, ainda, muito trabalho a ser feito para além do combate à criminalidade contra o meio ambiente e às comunidades tradicionais. Não valorizamos aquilo que não conhecemos. Assim, é urgente o investimento em ciência, pesquisa e inovação, desde a pesquisa básica para que se conheça o mundo de oportunidades que as florestas oferecem, até agregar valor a produtos e conhecimentos tradicionais que possam beneficiar as indústrias alimentícia, de fármacos, cosméticos, entre tantas outras. Também é fundamental prover logística e infraestrutura para que os recursos naturais, responsavelmente manejados, possam ser comercializados e cheguem ao mercado de maneira competitiva.

A rota da bioeconomia também é possível em grande escala, como é o caso das florestas cultivadas para fins industriais. No Brasil, o setor de árvores cultivadas planta, colhe e replanta em 9,9 milhões de hectares de área produtiva. Ao mesmo tempo, mantém mais de 6 milhões de hectares conservados, uma área maior que o estado do Rio de Janeiro. Tudo isso, combinando uma abordagem de paisagem, por meio dos mosaicos florestais, em que as áreas produtivas e de conservação são intercaladas, criando corredores ecológicos que oferecem abrigo para flora e fauna, que encontram local seguro para abrigo, alimentação, trânsito e reprodução.

As práticas de manejo sustentável adotadas ao longo das últimas décadas contribuíram diretamente para excelentes índices de biodiversidade, em que cerca de 8.300 espécies foram registradas, incluindo, 335 espécies ameaçadas de extinção, o que demonstra a segurança que encontram nas áreas das empresas de base florestal.

A atuação do setor na mitigação das mudanças climáticas se dá principalmente por quatro vetores: remoção e estoque de carbono, por meio das florestas plantadas e conservadas; energia de fontes renováveis; emissões evitadas; assim como os produtos provenientes do setor que estocam carbono: 45% da massa de um livro, por exemplo, é composta de carbono.

Para além dos livros, a indústria de base florestal também fornece matéria prima renovável e sustentável para a fabricação de mais de 5 mil bioprodutos, incluindo produtos biodegradáveis, recicláveis e renováveis. Das áreas de cultivo ao pós-uso, trata-se de uma agroindústria que prioriza a sustentabilidade de ponta a ponta, buscando soluções de grande potencial para substituir materiais de origem fóssil.

O setor de árvores cultivadas prova que produção e conservação podem estar do mesmo lado. Ou seja, é possível unir uma indústria pujante a compromissos internacionais ambientais, contribuindo diretamente com soluções reais para as atuais crises que vivemos. Tais exemplos nos dão um caminho factível e realístico para atingirmos as metas globais e evitarmos que as crises climáticas se agravem.

Todas as florestas, sejam nativas, plantadas, tropicais, temperadas, entre outras, oferecem oportunidades para prosperarmos em uma economia verde. No entanto, tais oportunidades, é bem verdade, não serão de fato encontradas, mas sim construídas a partir de uma nova visão do que significa prosperar. Para isso, o uso sustentável dos recursos naturais e das florestas é parte fundamental da estratégia – e tão importante quanto os aspectos financeiros.

Este artigo reflete as opiniões do colunista e não do Nexum Group/Portal Celulose. O veículo não se responsabiliza pelas informações publicadas acima e/ou possíveis danos em decorrência delas.

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Ibá

A Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) é a associação responsável pela representação institucional da cadeia produtiva de árvores plantadas, do campo à indústria. Com o objetivo de valorizar os produtos originários dos cultivos de pinus, eucalipto e demais espécies destinadas a fins industriais, a Ibá atua em defesa dos interesses do setor. Esse trabalho é desenvolvido junto a autoridades e órgãos governamentais, entidades da cadeia produtiva de árvores plantadas e importantes setores a economia, organizações socioambientais, universidades, escolas, consumidores e imprensa – tanto nacional como internacionalmente.

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