Economia Circular é inerente ao setor de árvores, papel e celulose
Por Carlos Mariotti, gerente-executivo da área de Política Industrial da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá)
Nesse momento em que a Terra clama por ajuda, com o planeta chegando ao seu limite, este 17 de maio ganha maior importância. Marcado como o Dia Internacional da Reciclagem, esta é uma data que deve estimular a ação em todos os atores globais. Ainda percebida por muitos como destinação correta no pós-uso do produto final, a reciclagem ganhou corpo nas últimas décadas e, hoje, é parte essencial para promover a circularidade em diferentes etapas de um processo industrial que preza pela sustentabilidade. O setor de árvores cultivadas é um dos bons exemplos que ilumina este caminho.
Tudo começa com 1,5 milhão de árvores cultivadas que são plantadas todos os dias, comumente em áreas antes degradadas. Hoje, são 9,9 milhões de hectares de áreas produtivas no Brasil, destinadas para eucalipto, pinus, entre outras espécies para fins industriais. Uma verdadeira biorrefinaria que dará origem a mais de 5.000 bioprodutos e cujo manejo sustentável claramente gera benefícios para o meio ambiente. Com conhecimento, aplicação de ciência e tecnologia, o setor de base florestal auxilia na fertilidade do solo, cuida da água, sequestra e estoca CO2.
Para além disto, este é um setor que conserva mais 6,05 milhões de hectares – uma área do tamanho do estado do Rio de Janeiro. Por meio de uma técnica de manejo sustentável, chamada mosaico florestal, conecta as áreas produtivas e de preservação, criando corredores ecológicos. Companhias florestais já registraram mais de oito mil espécies de fauna e flora em seus domínios, preservando a biodiversidade brasileira.
E este é só o começo de um ciclo. Na indústria, o setor vem se debruçando para, a partir da ciência e gestão voltada para o ESG, fazer a cadeia produtiva ainda mais ambientalmente amigável. A lignina, por exemplo, que antes era um subproduto do processo fabril, atualmente é utilizada como fonte renovável para geração de energia. Fato é que 88% da energia elétrica gerada nas fábricas vem de fontes renováveis. Isto é muito significante se abrirmos os olhos para o que acontece no mundo e considerarmos que um dos maiores desafios para a descarbonização é deixar as fontes de energia fósseis para trás.
Também é válido mencionar que o avanço no cuidado com recursos hídricos fez o setor diminuir o uso de água em 70% desde a década de 1970. Isso passa também pelo aumento da circularidade dos recursos hídricos no processo produtivo. Do total utilizado, 99% retorna à natureza, seja por meio de devolução – após tratamento – para o corpo dos rios ou evaporação para a atmosfera.
A celulose, matéria-prima base para fabricação de milhares de itens, segue caminho para se tornar desde produtos que estimulam a cultura e a informação – como livros, jornais e revistas – até embalagens sustentáveis, que são imprescindíveis nos mais diversos segmentos, dando origem a caixas de papelão, sacolas de papel utilizadas em delivery de comida, assim como em canudos, copos e outras embalagens em contato direto com alimentos, que, graças a tecnologias cada vez mais avançadas de revestimento, estão cada vez mais eficientes nessa função.
100% de todo o papel produzido no Brasil vem de árvores cultivadas. Isso inclui o papel imprimir & escrever, papelcartão, kraft, papel térmico, tecidos feitos de celulose, entre outros materiais biodegradáveis e recicláveis.
Importante pontuar, inclusive, que o setor de árvores cultivadas atuou com muito empenho durante toda a pandemia para não deixar faltar itens fundamentais para o dia a dia das pessoas, como bulas de remédios, receituários, máscaras cirúrgicas, toucas e aventais hospitalares, papel higiênico, lenços de papel e, especialmente embalagens de papel, que se mostraram imprescindíveis para a proteção e o transporte de todos os produtos. Com crescimento vultoso do e-commerce e delivery, o setor possibilitou que refeições e medicamentos, por exemplo, pudessem chegar às mãos de brasileiras e brasileiros, ao mesmo tempo em que estava provendo uma alternativa altamente reciclável e biodegradável.
Para se ter uma ideia, dados do Boletim Cenários Ibá revelaram que em 2022 a produção de papel no Brasil chegou a 11 milhões de toneladas – recorde histórico! Parte deste resultado pujante deve-se ao avanço dos papéis para embalagem: um aumento de 7% em relação a 2021.
Todo esse papel, reforço, tem origem renovável, é biodegradável, substitui materiais de origem fóssil e tem um alto índice de reciclagem, contribuindo para uma economia verde e circular.
No Brasil, segundo dados prévios da Ibá/FGV-IBRE, o índice médio de reciclagem de papel foi de 68,9% para o ano de 2022. Isso coloca o setor de papel nacional como um dos maiores recicladores do mundo. Mas este índice não é feito apenas de uma produção responsável, alinhada à sustentabilidade e garantindo a rastreabilidade dos produtos. Quando o papel sai das mãos do consumidor e há descarte adequado de resíduo, começa um novo ciclo para o papel e também para o setor.
A indústria de papel também investe fortemente no pós-consumo, pois entende que o conceito de logística reversa está no DNA do setor.
Existem várias formas de reciclar e o setor tem expertise na tarefa, bem como em criar ecossistemas colaborativos para manter o sistema funcionando. O sistema de reciclagem de papel foi originado e viabilizado pela indústria de papel no Brasil. As indústrias de papéis associadas à Ibá e à Empapel são as maiores recicladoras do produto.
A reciclagem depende de diversos atores e o papel, assim como outros materiais, como alumínio, por exemplo, podem ser inspiração para superarmos um desafio histórico do país.
É preciso estímulo dos governos com políticas públicas efetivas que impulsionem a circularidade. De acordo com o Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), apenas 18% dos municípios brasileiros possuem coleta seletiva. Além disso, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cuja lei data de 2010, ainda não foi plenamente implantada.
É essencial que Leis como a 17.261/2020 – sancionada há dois anos pelo município de São Paulo – sejam regulamentadas o mais rápido possível pelo próprio município, servindo de exemplo para os demais e também para a gestão federal. O estímulo ao uso e consumo de utensílios descartáveis de papel, a exemplo de muitos países e cidades mundo a fora, devem ser sim objeto da política pública brasileira, a fim de reduzir produtos de origem fóssil com baixo índice de reciclagem e que muitas vezes não são realmente passíveis de reciclagem, comprometendo o processo de triagem dos resíduos, que se acumulam em aterros e nos oceanos.
Fato é que a economia circular deve ser encarada de forma séria. A responsabilidade pela destinação deve ser compartilhada pelos setores preocupados com o meio ambiente desde a origem até a destinação e reciclagem final dos resíduos incorporando-os novamente na cadeia produtiva. Assim, podemos afirmar que toda a cadeia produtiva do papel – desde as indústrias de celulose, papel e embalagens, passando pelos catadores, cooperativas e aparistas e retornando à própria indústria como recicladora – tem feito um trabalho calcado na economia circular há décadas, e em constante evolução para responder às demandas cada vez mais complexas de mercados que buscam responsabilidade ambiental e social.
O cidadão, por sua vez, deve optar pelo consumo consciente e descarte correto para que possamos, todos juntos, cooperarmos com a recuperação de uma natureza que está à beira da convulsão.
Isso tudo em um mundo que clama pelo desenvolvimento da economia sustentável, por alternativas biodegradáveis aos materiais de origem fóssil e por setores comprometidos com a mitigação da crise climática. O que tem tudo a ver com um setor verde em sua essência, como é o setor de árvores cultivadas.
Este artigo reflete as opiniões do colunista e não do Nexum Group/Portal Celulose. O veículo não se responsabiliza pelas informações publicadas acima e/ou possíveis danos em decorrência delas.
Exelente iniciativa.
Ainda há esperança nesse nosso mundo.
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