Embalagens de papel
Por Paulo Hartung, economista, ex-governador do estado do Espírito Santo e presidente da Ibá; e José Carlos da Fonseca Jr., presidente da Empapel e Relações Internacionais da Ibá
A recém-finalizada COP de Dubai aprofundou o grave déficit de resultados da busca planetária pelas soluções para nossas principais crises ambientais. Não há mais como assistir, de forma inerte e descomprometida, à evolução da emergência climática.
Todos nós que habitamos este planeta sentimos, em menor ou maior proporção, os crescentes efeitos das mudanças climáticas. Fomos eficientes na COP de Paris, mas as metas climáticas estabelecidas na conferência escorrem pelos nossos dedos, o mercado mundial de carbono ainda não saiu do papel, o financiamento climático, necessário à transição para uma economia de baixo carbono, ainda reside no campo das promessas e o fundo de perdas e danos, aprovado na COP de Dubai, conta com recursos ínfimos frente aos necessários para prestar auxílio aos países mais afetados pela mudança no clima.
Precisamos agir veementemente para tangibilizar as metas climáticas, transformando as ideias em ações. E para que haja fôlego na caminhada, será preciso valorizar os bons exemplos, aqueles que nos permitem vislumbrar um futuro próspero a todos.
O setor de árvores cultivadas é fonte de inspiração nesta jornada por uma economia mais verde. Este é um setor que planta, por dia, 1,8 milhão de árvores, que absorvem carbono ao longo de seu crescimento, contribuindo com a mitigação da mudança do clima. Hoje, o setor conserva 6,73 milhões de hectares de mata nativa ou restaurada, uma extensão maior que o estado do Rio de Janeiro.
São mais de 5 mil bioprodutos recicláveis, biodegradáveis e de origem renovável, que atendem às necessidades dos consumidores enquanto beneficiam o meio ambiente.
Um desses produtos vem ganhando cada vez mais preferência do consumidor em um mundo em crescente digitalização e necessidade de produtos com pós-uso responsável. As embalagens de papel carregam atributos sustentáveis, beleza, possibilidade de inovação e têm amplo leque de personalização com impressão. A pandemia, o aumento das compras online e serviços de delivery, impulsionaram ainda mais a presença das embalagens de papel nos lares dos consumidores, fazendo com que elas já somem 34% desse mercado.
Se considerarmos que, na caminhada para o futuro, tudo que é extraído da terra precisará voltar a ela ou ser reciclado, as embalagens de papel são uma amostra de que é possível um consumo mais consciente e responsável. Nosso setor participa ativamente da construção da cadeia de reciclagem do papel, investindo tanto na estrutura logística do pós-uso, como no aumento de sua reciclabilidade.
O resultado desse esforço de décadas é uma cadeia produtiva responsável, que prioriza a sustentabilidade da árvore ao produto. Prova disso é que 75,8% de todo papel para embalagem consumido no Brasil é reciclado, como demonstra o Relatório da Ibá de 2023.
A crescente demanda global por produtos da bioeconomia impulsionam o setor que conta com uma carteira de investimentos de R$ 61,9 bilhões até 2028, entre novas áreas de cultivo, unidades fabris, ciência e tecnologia, projetos socioambientais e desenvolvimento de produtos. Nos últimos anos, o setor abriu uma fábrica a cada ano e meio, em média. Ilustrando essa tendência está a expansão da Unidade Puma, no Paraná, com o Projeto Puma II, de R$ 12,9 bilhões, sendo o maior investimento recebido pelo estado nos últimos anos. Além disso, a Klabin está colocando de pé uma nova fábrica em Piracicaba, em São Paulo.
Batizado de Projeto Figueira, a unidade terá duas onduladeiras e capacidade para produção de até 240 mil toneladas de papel ondulado por ano. O papel ondulado é o conhecido papelão, utilizado em caixas de embalagens e no transporte de produtos diversos, em uma opção sustentável, renovável e amplamente reciclável. Em geral, a indústria brasileira trabalha com altos índices de fibras recicladas de diversos tipos de papéis para a fabricação das caixas de papelão. Segundo dados da Empapel, 70% das embalagens de papelão no Brasil são produzidas com fibras recicladas ou contam com fibras recicladas na sua produção. Nesse sentido, a unidade está preparada para receber, ainda, duas máquinas de papel reciclado com capacidade de produção de 450 mil toneladas por ano.
Para além da inerente sustentabilidade do produto, a fábrica, que tem o start-up previsto para o segundo trimestre de 2024, também contará com geração de energia solar, empilhadeiras elétricas e reaproveitamento de água da chuva. Localizado em uma área estratégica de quase 1 milhão de m² no município paulista, a fábrica conta com investimento de R$ 1,6 bilhão. O que não falta é espaço para futuras expansões e novas máquinas.
Projetos como o Figueira, o Puma, a LD Celulose no Triângulo Mineiro, a unidade da Bracell em Lençois Paulista (SP), o Projeto Cerrado da Suzano em Ribas do Rio Pardo (MS), e muitos outros levados adiante a partir da pujante carteira de investimentos do setor são exemplos de faróis a iluminar o caminho da bioeconomia em direção ao futuro. Nesta jornada, não há como fincar-se na rota da sustentabilidade sem seguir a bússola dos bons exemplos. Por sorte, setores como o nosso têm muito o que oferecer na construção de um amanhã próspero a esta e futuras gerações.
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